segunda-feira, 6 de abril de 2009

Laboratório de Estudos em Ficção Científica Audiovisual

1 . Justificativa/Caracterização do Problema
Os estudos de cinema no Brasil estão em franca expansão, paralelamente ao crescimento da demanda por formação na área do audiovisual. O advento do cinema digital e o aumento da demanda por profissionais altamente qualificados no mercado de produção audiovisual, no Brasil e no exterior, influiu diretamente na crítica e na teoria do cinema produzida nos últimos anos. A popularização da tecnologia digital resultou em maior acessibilidade ao meio de expressão audiovisual e levantou uma série de questionamentos nos campos da crítica e dos estudos de cinema, conforme se verifica na obra recente de autores como brasileiros como Fernão Ramos (1998, 2001, 2005) e Arlindo Machado (1994, 1997) e André Parente (1993, 1994), ou estrangeiros como Philippe Dubois (2004), Lev Manovich (2001, 2005) e outros. Por outro lado, diferente de EUA ou Europa, pesquisas focadas na área de interseção entre cinema, arte e tecnologia ainda não atingiram maturidade, especialmente fora do eixo Rio de Janeiro e São Paulo. O objetivo fundamental deste projeto é viabilizar a formação de um grupo de pesquisa, organizado em torno de um laboratório de experimentação audiovisual, voltado para investigações acerca da zona de entroncamento cinema-ciência-tecnologia, manifesta tanto em termos formais e de suporte (analógico, digital, misto, etc., e implicações da tecnologia no estilo ou regime narrativo) quanto de conteúdo (análise da temática e problemática abordada pelo cinema mais atento às transformações científicas e tecnológicas). Nesse sentido, pesquisadores de diversas áreas (Artes, Comunicação, Ciências Exatas, Ciências Biológicas, etc.) devem ser reunidos em um interesse comum: reflexões sobre a zona de convergência por onde trafegam o cinema, ciências e tecnologia, com ênfase num gênero audiovisual especialmente propício a esse fenômeno: a ficção científica.
.
A ficção científica é hoje um gênero multimidiático, com manifestações que extrapolam o campo literário, invadindo os territórios do cinema e audiovisual, música, teatro e games. Sua origem mais moderna está nas obras de autores como Mary Shelley, Jules Verne e H. G. Wells. Sua consolidação enquanto gênero se deu com a proliferação da pulp fiction nos EUA. O chamado boom de filmes de ficção científica dos anos 1950 contribui decisivamente para a popularização do gênero (BAXTER, 1970). A New Hollywood do final dos anos 1970 coloca o cinema de ficção científica definitivamente na primeira linha dos grandes estúdios e entre os maiores sucessos de bilheteria lançados ano a ano. Atualmente, o imaginário ou iconografia de ficção científica está presente não só na literatura ou em produtos de mídia da indústria cultural, mas também na moda e no comportamento, perpassando diversos setores da cultura e cotidiano. Com tudo isso, já há algum tempo o estudo da ficção científica tem se revelado ferramenta esclarecedora para se compreender e analisar o mundo contemporâneo (FIKER, 1985).

Cumpre notar também que o presente projeto visa contribuir significativamente para a densidade da bibliografia nacional em português voltada para os estudos de cinema, ciência e tecnologia em diálogo.

O presente projeto compreenderá duas linhas de pesquisa fundamentais:
1) Máquina-forma. Nesta linha são concentradas as pesquisas e experimentos relativos a aspectos formais da obra audiovisual (ritmo, edição, duração de planos, efeitos visuais e sonoros, etc.) ou de suporte (digital, analógico, misto, híbrido, etc.).
2) Máquina-imaginário. Nesta segunda linha encaixa-se a pesquisa sobre implicações/repercussões éticas e/ou estéticas da ficção científica no cinema internacional, visando a conformação de um corpus teórico especificamente voltado para o gênero no audiovisual.


2 . Objetivos
1) Promover a produção e troca de conhecimento sobre as múltiplas relações entre cinema, arte e tecnologia, contribuindo para o intercâmbio de informações entre pesquisadores e artistas no Brasil e no mundo;
2) Estabelecer um núcleo de pesquisas inédito no país, voltado para a articulação entre o cinema, a ciência e a tecnologia, com escopo que abrange desde aspectos formais/tecnológicos da obra audiovisual, até manifestações de gênero como a ficção científica;
3) Criar vínculos de colaboração com centros de pesquisa dentro e fora do pais (ex.: Center for Latin American Studies, Univ. of Florida, Centre for World Cinemas, Univ. of Leeds);
4) Desenvolver novas metodologias de pesquisa sobre suportes, formas e manifestações de gênero/ (ou manifestações discursivas) no audiovisual;
5) Criar e consolidar um laboratório de experimentação em audiovisual inédito na região;
6) Criar dois sites de divulgação, um para cada linha de pesquisa do projeto (formas e suportes e máquina-imaginário);
7) Estreitar relações de produção acadêmica entre graduação e pós-graduacão na UFJF, integrando o Inst. de Artes e Design à Faculdade de Comunicação e ao Depto. de Ciências da Computação, por exemplo.

3 . Metodologia e Estratégias de Ação
Os objetivos pretendidos serão atingidos por meio da colaboração/cooperação constante entre pesquisadores de diversas áreas, desenvolvendo trabalhos sob perspectiva híbrida (ex.: cinema e física, cinema e biologia). O engajamento de grupos em torno da redação de artigos e papers, da realização experimental em cinema e vídeo e de simpósios e workshops levará naturalmente ao cumprimento dos objetivos.

4 . Resultados e os impactos esperadosNo âmbito do impacto e da produção estão previstos publicações em periódicos científicos nacionais Qualis A como Galáxia, Devires, Quarto Escuro, Ipotesi e Manuscrito, e internacionais como Science Fiction Studies (EUA), Extrapolation (EUA), Film International (RU), Senses of Cinema (AUS) e Science Fiction Film and Television (Univ. of Liverpool, RU). Também estão previstos simpósios, workshops e palestras com convidados internacionais, bem como a organização de um mini-laboratório de experimentação multimídia e a publicação de um site de divulgação. Os workshops serão prioritariamente voltados para treinamento e capacitação de discentes no campo da produção e experimentação em cinema e vídeo digital. Os resultados das pesquisas também serão divulgados sob forma de papers em conferências nacionais e internacionais como o Encontro Anual da SOCINE (Sociedade Brasileira para os Estudos de Cinema e Audiovisual), ABRALIC (Associação Brasileira de Literatura Comparada), COMPÓS, Conferência Anual da Science Fiction Research Association, Film History Association of Australia and New Zealand (FHAANZ) e eventos científicos organizados pelo Centre for World Cinemas da Universidade de Leeds (RU) e pelo Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade da Flórida (EUA), além do Festival Utopiales (França).

BIBLIO

Referências

BAXTER, John. Science Fiction in the Cinema. New York: A.S. Barnes & Co./London: A. Zwemmer Ltd. 1970.
MACHADO, Arlindo. Pré-cinemas & Pós-cinemas. Campinas: Papirus, 1997.
---------------------------. “As Imagens Técnicas: da fotografia à síntese numérica”. Imagens, nº 3, dez 1994, p. 8-14.
MANOVICH, Lev. Language of New Media. Boston: MIT Press, 2001.
----------------------- and KRAKTY, Andreas. Soft Cinema. Boston: MIT Press, 2005.
FIKER, Raul. Ficção Científica: Ficção, Ciência ou uma Épica da Época? Porto Alegre: L&PM, 1985.
PARENTE, André (org.) Imagem-Máquina. Rio de Janeiro, Ed. 34, 1993.
------------------------. “A Imagem Virtual, Auto-Referente”, in Imagens, nº 3, dez 1994, p.15-19.
RAMOS, Fernão. Teoria contemporânea do cinema I e II. São Paulo: Ed. Senac, 2005.
--------------------. “Bazin espectador e a intensidade na circunstância da tomada”. Revista Imagens, nº 8. Campinas: Ed. da Unicamp, mai/ago 1998.
--------------------. "O que é Documentário" in Catani, Afranio (org.). Estudos de Cinema 2000. Porto Alegre, Salina, 2001.

Bibliografia de apoio

ALLEN, L. David. No Mundo da Ficção Científica. São Paulo: Summus, 1976.
ALTMAN, Rick. Film/Genre. London: BFI, 1999.
AURICH, Rolf, JACOBSEN, Wolfgang, JAHTO, Gabriele (eds.). Artificial Humans – Manic machines, controlled bodies. Berlim: Jovis, 2000.
BARTHES, Roland. Image-Music-Text. New York: Hill and Wang, 1978.
BAUDRILLARD,JEAN.SIMULACROS E SIMULAÇÃO.Lisboa.Relógio DÁgua.1991.BERGER, Arthur Asa. Media Analysis Techniques. London: Sage, 1982.
BOCCARA, E. G. Análise semiótica do design. São Paulo, Edição do Autor, 1980.
BRITO, Mário da Silva. Ângulo e Horizonte - de Oswald de Andrade à Ficção-Científica. São Paulo: Martins, 1969.
-----------------------------. Introdução. In: SILVA, Fernando Correia da (org.), Maravilhas da ficção científica. São Paulo: Cultrix, 1958.
BROOKE-ROSE, Christine. A Rethoric of the Unreal: Studies in narrative and structure, especially of the fantastic. Cambridge/London/New York: Cambridge University Press, 1981.
BROSNAN, John. The Primal Screen: A History of Science Fiction Film. London: Orbit, 1991.
CARNEIRO, André. Introdução ao Estudo da “Science Fiction”. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura/Comissão de Literatura, 1967.
------------------------. Diário da Nave Perdida. São Paulo: EdArt, 1963.
CARR, Terry. “Realidades superiores ou como escrever ficção científica sem saber muita coisa de ciência”, Isaac Asimov Magazine, nº 13. Rio de Janeiro: Record, pp. 170-178.
CAUSO, Roberto de Sousa. Ficção Científica, Fantasia e Horror no Brasil: 1875 a 1950. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
--------------------------------. “The Frankenstein Continuum” Inédito, cópia cedida pelo autor.
-------------------------------- (org.). Histórias de Ficção Científica. São Paulo: Ática, 2005.
CSICSERY-RONAY JR., Istvan. “The Seven Beauties of Science Fiction. Science Fiction Studies, #70, vol. 23, part 3, Nov/1996. disponível em http://www.depauw.edu/sfs/
CUNHA, Fausto. A Ficção Científica no Brasil: Um planeta quase desabitado. In:
DUBOIS, Philippe. Cinema, Vídeo, Godard. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
ECO, Umberto. Apocalípticos e Integrados. São Paulo: Perspectiva, 2000.
FERREIRA, Rachel Haywood. “The First Wave: Latin American Science Fiction Discovers Its Roots”. Science Fiction Studies #103, vol. 34, part 3, Nov 2007, pp. 432-462.
FERRINI, Franco. Qué es Verdaderamente la Ciência Ficcion. Madrid: Doncel, 1971.
FLUSSER, Vilém. Ensaio sobre a Fotografia. Lisboa: Relógio D’Água, 1998
-----------------------. O Mundo Codificado: Por uma filosofia do Design e da Comunicação. São Paulo: Cosac & Naify, 2007
GINWAY, M. Elizabeth. Ficção Científica Brasileira: Mitos culturais e nacionalidade no país do futuro. Sãp Paulo: Devir, 2005.
-----------------------------. “A Working Model for Analyzing Third World Science Fiction”. Science Fiction Studies, nº 97, vol. 32, parte 3, novembro 2005, p. 467-494.
GODOY OTERO, Léo. Introdução a uma História da Ficção Científica. São Paulo: Lua Nova, 1987.
GRANT, Barry Keith. Film genre reader II. Austin: University of Texas Press, 1995.
HARDY, Phil. The Overlook Film Encyclopedia: Science Fiction. New York: Overlook, 1995, 3ª edição.
HENDERSON, C.J. The Encyclopedia of Science Fiction Movies. New York: Checkmark Books, 2001.
HUGHES, David. The Greatest Sci-Fi Movies Never Made. Chicago: A Cappella, 2001.
KUHN, Annette (ed.). Alien Zone: Cultural Theory and Contemporary Science Fiction Cinema. London/New York: Verso Books, 1990.
---------------------------. Alien Zone II: The Spaces of Science Fiction Cinema. London/New York: Verso Books, 2000.
KUHN. Thomas S. A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 2003, 7ª edição.
MACEY, David. The Penguin Dictionary of Critical Theory. London: Penguin Books, 2001.
MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos Meios às Mediações: Comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 2003, 2ª edição.
MCCAFFERY, Larry. Storming the Reality Studio – A casebook of cyberpunk and postmodern fiction. London: Duke Univ. Press, 1991.
MCLUHAN, Marshall. Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem. São Paulo: Cultrix, 1964.
METZ,CHRISTIAN.LINGUAGEM E CINEMA.São Paulo.Perspectiva.1980. ________________.SIGNIFICAÇÃO NO CINEMA.São Paulo.Perspectiva.1972.
MOLINA-GAVILÁN, Yolanda, BELL, Andrea, FERNÁNDEZ-DELGADO, Miguel Angel, GINWAY, M. Elizabeth, PESTARINI, Luis e REDONDO, Juan Carlos Toledano. “Chronology of Latin American Science Fiction, 1775-2005”. Science Fiction Studies #103, vol. 34, part 3, Nov 2007, pp. 369-431.
NICHOLLS, Peter (general editor) The Science Fiction Encyclopedia. Garden City: Doubleday & Co., Inc., 1979.
----------------------. Fantastic Cinema: An Illustrated Survey. London: Ebury Press, 1984.
PALLA, Victor. O Que É a “Ficção Científica”? Uma antologia. Coimbra: Ed. Atlântida, 1959.
PIGNATARI, Décio. Informação. Linguagem. Comunicação. São Paulo: Editora Perspectiva, 1970.-------------------------. Semiótica e literatura. São Paulo: Editora Perspectiva, 1974.POHL, Frederik. “The Study of Science Fiction: A Modest Proposal”. Science Fiction Studies, #71, vol. 24, part 1, Mar/1997, disponível em http://www.depauw.edu/sfs/
RICKMAN, Gregg (ed.). The Science Fiction Film Reader. New York: Limelight Editions, 2004.
ROBERTS, Adam. Science Fiction. London: Routledge, 2000.
RUSS, Joana. “Towards na Aesthetic of Science Fiction”. Science Fiction Studies, #6, vol. 2, part 2, Jul/1975, disponível em http://www.depauw.edu/sfs/
SANZ, José (ed.). FC Simpósio. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Cinema, 1969.
SCHETINO, Paulo. Diálogos sobre a tecnologia no cinema brasileiro. São Paulo: Ateliê Editorial, 2007.
SCHOEREDER, Gilberto. Ficção Científica. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986.
SEARLES, Baird. Films of Science Fiction and Fantasy. New York: AFI Press/Harry N. Abrams, Inc., 1988.
SHELLEY, Mary. Frankenstein. Porto Alegre: L&PM, 2001.
SICLIER, J. e LABARTHE, A. S. Cinema e Ficção Científica. Lisboa: Editorial Áster, [s.d.].
SKORUPA, Francisco Alberto. Viagem às Letras do Futuro - Extratos de bordo da ficção científica brasileira: 1947-1975. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 2002.
SONTAG, Susan. “A imaginação da catástrofe”. In: Contra a Interpretação. Porto Alegre: L&PM, 1987.
STAM, Robert. Introdução à teoria do cinema. Campinas, Papirus, 2003.
STABLEFORD, Brian. Marriage of Science and Fiction. In: HOLDSTOCK, Robert (ed.), Encyclopedia of Science Fiction. London: Octopus, 1978, p. 18-27.
SUBIRATIS, Eduardo. Vanguarda, Mídia, Metrópoles. São Paulo: Studio Nobel, 1993.
SUPPIA, Alfredo. “Screened Panic: cinema fantástico ou de ficção científica e o pânico do vídeo – os casos Videodrome, Akumulator 1 e O Chamado. In: FABRIS, Mariarosaria, GARCIA, Wilton e CATANI, Afrânio M. (orgs.). Estudos de Cinema Socine Ano VI. São Paulo: Nojosa, 2005, pp. 69-77.
---------------------. “O estranho caso do livro que inspirou uma infinidade de filmes: breve análise de O Médico e o Monstro no cinema. Argumento. Ano VII, n. 14, maio 2006, pp. 137-149.
SUVIN, Darko. Metamorphoses of Science Fiction. New Haven/London: Yale University Press, 1980.
TODOROV, Tzvetan. Os gêneros do discurso. São Paulo: Martins Fontes, 1980.
TUDOR, Andrew. Teorias do cinema. Lisboa: Edições 70, [s.d.].
VANOYE, Francis e GOLIOT-LÉTÉ. Ensaio sobre a Análise Fílmica. Campinas: Papirus, 1994.
VÁRIOS. “Ficção científica: o discurso da era tecnológica”. Revista de Cultura Vozes, ano 66, vol. 66, jun/jul. 1972, nº 5.
VEIGA, José J. A Máquina Extraviada: Contos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974, 2ª ed.
WARRICK, Patricia. The Cybernetic Imagination in Science Fiction. Cambridge: MIT Press, 1980.
WILLIAMS, Raymond. “Science Fiction”. Science Fiction Studies, #46, vol. 15, part 3, Nov/1998, disponível em http://www.depauw.edu/sfs/
WOLLEN, Peter. Signos e significação no cinema. Lisboa, Horizonte, 1979.
XAVIER, Ismail. O Discurso Cinematográfico: A Opacidade e a Transparência. São Paulo: Paz e Terra, 2005, 3ª edição.